segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

BRAILE

“Sentir? Sinta quem lê” (Pessoa).
Assim eu te sinto ao te ler...
Vejo-te sentindo-te,
Lendo teu corpo por tuas e minhas palavras...

Leio-te sempre em meus sonhos.
Por isso estou aprendendo uma nova linguagem,

Braile!

Pois quero te ler com as mãos...

Não sou cego.
Cego? Pelo menos ainda não,
Pois quero ter olhos bem abertos para te ver,
E mãos bem treinadas para ler...

Quero ler o alfa e o ômega,
Princípio, meio e fim...

Tatear cada letrinha,
Cada palavra,
Cada frase,
Em princípio em conexa leitura,
Depois...
Quero tatear palavras loucas e ecos estremecidos...
Leitura frenética, frases desconexas, frenesi...

Quero tentar aprender braile com os lábios,
Para com eles também ler...
Uma leitura mais profunda...

Quero te conhecer com mãos e lábios,
Em palavras ocultas, ainda não lidas...

Verbalizar!?

Nesta leitura não há verbalizar!
Só há leitura, frenética leitura!

Textos longos, textos curtos,
Apenas frases loucas, úmidas...
E para frases úmidas é que preciso de braile com a boca...

Boca, boca cheia de letrinhas,
Boca faminta, sedenta por mordidas,
Devorar as folhas curvas
Deste teu-meu texto não lido,
Saborear cada palavra, cada frase curva,
Cada frase em morrinho,
Cada palavra úmida, cada verso cheiroso...
Com o cheiro de corpo...

Percorrer extremos deste livro escrito para mãos e bocas,
Tatear cada cantinho,
Cada segredinho escondido,
Entre bocas, lábios e pernas...

Com a boca, com as mãos,
Em versos desconexos,
Versos quentes,
Escritos em vivo braile na carne nua...


Fúlvio Stadler

2 comentários:

  1. Que legal! Você também escreve... Vou dar uma passeada por aqui, mas, de início, gostei bastante da sutileza deste poema, o li provavelmente com o mesmo sorriso safado que você usou para escrever... hehehe... Mas sem querer estragar o contexto, acabei lembrando do link http://www.perguntascretinas.com.br/wp-content/uploads/2007/04/papapsicologo_cego_caradepau.jpg

    ResponderExcluir