Tenho me sentido
Uma verdadeira ponte.
Daquelas velhas,
relegadas ao desprezo,
corroída pelo tempo.
Necessária,
porém abandonada.
Todos, a todo dia, por ela passam,
e não se apercebem que ela ali está.
Desprezada,
quebrada,
solitária,
despedaçada,
abandonada.
Mas está ali.
Todos a vêem,
todos dela necessitam.
Mas todos a desprezam.
A desprezam porque
sequer percebem que é ponte.
A desprezam porque é ponte;
A desprezam porque é solitária e abandona;
E a desprezam por tudo o que é,
E pelo esquecerem-se de que ponte é.
A desprezam por sua solitária existência...
De ser ponte...
E neste insólito abandono,
A desprezam por ser necessária,
A desprezam por ser desprezada pelo desprezo
Daqueles que a desprezam,
Desprezando-na por ser ponte.
Ponte necessária ao pantomímico dilema diário
Do ignorarem o pisar-lhe.
E que culpa tem ela de ser ponte,
Se não a natureza de ser ponte e ser pisada,
Útil, necessária?
Não se apercebem,
Aqueles que ao ignorarem-se pisando,
Que ela, mesmo em sua natureza,
Em sua essência anímica de ser ponte,
Também dos que a ignoram necessita?
Assim também sou eu.
Uma ponte velha,
Destruída e esquecida,
Que pelo esquecer-me ao esquecer-se alheio,
Esqueço-me, eu mesmo, de ser ponte;
Até que o tempo,
Como fogueira,
Que da madeira não se alimenta,
Necessária à sua essência de ser fogueira,
Esvai-se em sua última centelha,
E se apaga
com o mais suave sussurrar da brisa matutina
E pelo delicado orvalhar da madrugada.
Eis o alimento do ser ponte,
Ser lembrada de que ponte é e une os caminhos,
Tal qual a natureza humana,
Que do amar necessita
Para a si lembrar-se Ser...
Humano.
E assim eu me sinto,
Só e esquecido,
Desprezado por ser ponte,
Pela necessidade de não me sentir ponte
E de não me ser consumido pelo
Esquecer-me de que não sou ponte,
De não me deixar de ser...
De não me deixar de ser
Pelo sentimento que te sinto
E não me consumir pela tua ausência
Por ser tão ausente a mim mesmo
Que minha ausência se estende a você.
E assim me sinto eu abandonado,
Por me enredar nas armadilhas do destino
E dar lenha à centelha de um amor,
Que como estrela vespertina,
Quase imperceptível se fez lume.
Amor que quero,
Não te esqueças!
Posto que é amor e não ponte;
Para que nele não pises.
E não te olvides de que,
Mesmo ponte ele não sendo,
Ponte é!
Pois dois corações,
Pela distância, separados,
Fez transpor os obstáculos
Do ardil destino.
E um dia, como ponte, os uniu.
Fúlvio Stadler.
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
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VC É FEITO DE LUZ!!!!!!!!BJS
ResponderExcluirFantástico! Parabéns meu amigo! Cada dia melhor...
ResponderExcluirQuantas vezes somos pontes desprezadas e esquecidas para as pessoas e quantas pessoas as são para nós. Mas nunca atravessamos uma ponte se não confiamos na sua solidez... Adorei!
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